segunda-feira, agosto 29, 2011

Fotografias famosas - I

Estas são algumas das fotografias mais famosas do mundo. Não estão em uma ordem de preferência ou de importância. Mais tarde eu coloco outras que também são muito importantes!


A imagem de Che Guevara
A famosa foto de Che Guevara, conhecida formalmente como "Guerrilheiro Heróico" foi tirada por Alberto Korda em 5 de março de 1960 quando Guevara tinha 31 anos num enterro de vítimas de uma explosão. Foi publicada somente em 1967.O Instituto de Arte de Maryland - EUA denominou-a "A mais famosa fotografia e maior ícone gráfico do mundo do século XX". É uma das imagens mais reproduzidas em toda a história. Até hoje jovens de ideais de esquerda utilizam essa imagem em camisetas, botons e bandeiras.



A menina do Vietnã
Em 8 de junho de 1972, um avião norte-americano bombardeou a população de Trang Bang com napalm (uma arma química que faz com que o corpo queime e a pele derreta por conta disso).  Kim Phuc e sua família estavam por lá. Com sua roupa em chamas, a menina de nove anos corria em meio ao povo desesperado e no momento, que suas roupas tinham sido consumidas, o fotógrafo Nic Ut registou a famosa imagem.
Depois, Nic levou a garotinha para um hospital onde ela permaneceu por durante 14 meses sendo submetida a 17 operações de enxerto de pele.
Qualquer pessoa que vê essa fotografia, mesmo que menos sensível, poderá ver a profundidade do sofrimento, a desesperança, a dor humana na guerra, especialmente para as crianças.
Hoje em dia Pham Thi Kim Phuc está casada, com 2 filhos e reside no Canadá onde preside a "Fundação Kim Phuc", dedicada a ajudar as crianças vítimas da guerra e é embaixadora da UNESCO.






A menina Afegã
Sharbat Gula foi fotografada quando tinha 12 anos pelo fotógrafo Steve McCurry, em junho de 1984. Essa foto foi feita no acampamento de refugiados Nasir Bagh do Paquistão durante a guerra contra a invasão soviética. Essa foto foi publicada na capa da National Geographic em junho de 1985 e, devido a seu expressivo rosto de olhos verdes, a capa converteu-se numa das mais famosas da revista e do mundo.
No entanto, naquele tempo ninguém sabia o nome da garota. O mesmo homem que a fotografou realizou uma busca à jovem que durou exatos 17 anos. Em janeiro de 2002, encontrou a menina, já uma mulher de 30 anos e pôde saber seu nome. Sharbat Gula vive numa aldeia remota do Afeganistão, é uma mulher tradicional pastún, casada e mãe de três filhos. Ela regressou ao Afeganistão em 1992. O resultado desse encontro pode ser visto também na revista National Geographic.





Einstein
Apesar de muita gente, graças a essa foto, pensar em Einstein como um sujeito simpático e brincalhão, a história dessa foto é um tanto diferente. Ela foi feita em 14 de Março de 1951 pelo fotógrafo Arthur Sasse, que foi o único que captou o momento, apesar de que Einstein estivesse rodeado de vários fotógrafos. O fato de estar cercado de jornalistas causou a tal careta do físico. Ele tinha acabado de ser homenageado por seu aniversário de 72 anos e já estava de saco cheio com o tanto de gente em sua volta. Por causa da perseguição dos fotógrafos e repórteres que pediam que ele tirasse fotos e mais fotos, ele começou a gritar "Basta!, muito bravo, e mostrou a língua com o intuito de estragar as fotos. Mas, no fim, o resultado não foi exatamente esse, já que essa acabou sendo sua imagem mais famosa.



O beijo do Hotel de Ville
Esta bela foto, que data de 1950, é considerada como a mais vendida da história. Isto se deve à intrigante história com a que foi descrita durante muitos anos: contam que esta foto foi tirada ao acaso por Robert Doisneau enquanto estava sentado tomando um café. Ele fazia várias fotos aleatórias das pessoas que passavam e captou esta imagem de amantes beijando-se com paixão enquanto caminhavam no meio da multidão.
Esta foi a história que se conheceu durante muitos anos até 1992, até que dois impostores se fizeram passar pelo casal protagonista. Doisneau ficou indignado pela falsa declaração e acabou revelando a história original, que a fotografia não tinha sido tirada ao acaso, mas que ele tinha pedido a um casal que passava para posarem para ele. O fotógrafo, inclusive, tinha lhes enviado uma cópia da foto como agradecimento.
55 anos depois Françoise Bornet (a mulher do beijo) reclamou os direitos de imagem das cópias desta foto e recebeu 200 mil dólares!




O beijo da Time Square
Essa famosa foto do beijo da Time Square foi feita por Victor Jorgensen em 14 de Agosto de 1945. Um soldado da marinha norte-americana estava beijando apaixonadamente uma enfermeira. O que é fora do comum para aquela época é que os dois personagens não eram um casal, eram perfeitos estranhos que haviam acabado de encontrar-se. Essa fotografia é considerada uma analogia da excitação e paixão que significa regressar a casa depois de passar uma longa temporada fora, como também a alegria experimentada ao final de uma guerra.






Triunfo dos Aliados
Nessa fotografia um soldado Russo agita a bandeira soviética no alto de um prédio após a vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial. A foto demorou a ser publicada pois as autoridades Russas quiseram modificá-la. A bandeira era na verdade uma toalha de mesa vermelha e o soldado aparecia com dois relógios no pulso, o que indicava um provável furto.




A bandeira americana em Iwo Jima
Esta é uma importante fotografia histórica que foi feita em 23 de fevereiro de 1945, por Joe Rosenthal. Ela apresenta cinco fuzileiros navais e um da Marinha dos EUA levantando a bandeira americana no topo do Monte Suribachi durante a Batalha de Iwo Jima na Segunda Guerra Mundial.





O homem do tanque de Tiananmen
Também conhecida como o "Rebelde Desconhecido", mostra um jovem anônimo que se tornou internacionalmente famoso ao ser gravado e fotografado em pé em frente a uma linha de vários tanques durante a revolta da Praça de Tiananmen de 1989 na República Popular Chinesa.
A foto foi tirada por Jeff Widener, e na mesma noite foi capa de centenas de jornais, noticiários e revistas de todo mundo. O jovem estudante (certamente morto horas depois) interpôs se a duas linhas de tanques que tentavam avançar. No ocidente as imagens do rebelde foram apresentadas como um símbolo do movimento democrático Chinês: um jovem arriscando a vida para opor-se a um esquadrão militar.
Na China, a imagem foi usada pelo governo como símbolo do cuidado dos soldados do Exército Popular de Libertação para proteger o povo chinês: apesar das ordens de avançar, o condutor do tanque recusou fazê-lo! Ok, senta lá Claudia!!! hehehehe



The Falling Man
Esta é uma fotografia tirada por Richard Drew durante os atentados do 11 de setembro de 2001 contra as torres gêmeas do WTC em Nova York. Na imagem pode-se ver um homem caindo de uma das torres (nitidamente ele se jogou lá do alto - como tantas outras pessoas, quando perceberam o que estava acontecendo). Sua publicação pouco depois dos atentados irritou a certos setores da opinião pública norte-americana. A maioria dos meios de comunicação se auto-censurou, preferindo mostrar unicamente fotografias de atos de heroísmo e sacrifício.




Abbey Road
Esta é a mais famosa foto feita dos Beatles. Tirada em 1969 na rua de mesmo nome, em Londres, na frente do estúdio onde o album Abbey Road foi gravado, em 8 de agosto de 1969 por Iain Macmillan. A foto foi objeto de rumores e teorias de que Paul estaria morto, vítima de um acidente de carro em 1966. Apesar de ter sido apenas uma brincadeira e puro marketing do grupo, a lenda ainda é assunto de alguns beatlemaníacos. A foto conteria supostas "pistas" que dariam força ao rumor de que Paul estava morto: Paul está descalço (segundo ele, aquele dia fazia muito calor, e ele não estava aguentando ficar com nada nos pés), fora de passo com os outros, está de olhos fechados, tem o cigarro na mão direita, apesar de ser canhoto, e a placa do fusca, em inglês, "beetle" estacionado é "LMW" referindo se as iniciais de "Linda McCartney Widow" ou "Linda McCartney Viúva" e abaixo o "281F", supostamente referindo-se ao fato de que McCartney teria 28 anos se (if em inglês) estivesse vivo. (O I em "28IF" é realmente um "1", mas isso é difícil de se ver na capa. Um contra-argumento é que Paul tinha somente 27 anos no momento da publicação de Abbey Road, embora alguns interpretem isso como ele teria um dia 28 anos se ele estivesse vivo.) Os quatro Beatles na capa, segundo o mito "Paul está morto", representariam o Padre (John, cabelos compridos e barba, vestido de branco), o responsável pelo funeral (Ringo, em um terno preto), o Cadáver (Paul, em um terno, mas descalço - como um corpo em um caixão), e o coveiro (George, em jeans e uma camisa de trabalho denim). Além disso há um outro carro estacionado, de cor preta, de um modelo usado para funerais e eles andam em direção a um cemitério próximo a Abbey Road. Notem também que atrás do Paul tem um carro como se estivesse passado pelo mesmo lugar que ele está. Outra suposta pista seria que na contra-capa do álbum, ao lado esquerdo da palavra Beatles, teria 8 pontos formando o número 3 (sendo então "3 Beatles"). O homem de pé na calçada, à direita, é Paul Cole, um turista dos EUA que só se deu conta que estava sendo fotografado quando viu a capa do álbum meses depois. Obviamente que se o Paul da capa fosse um sósia, convenhamos que seria um sósia muito talentoso, pois esse grande disco e o restante da carreira de McCartney revelam o grande artista que ele é!!! Além disso, ele veio recentemente ao Brasil e fez shows sensacionais... hahahahahahaha! Bom esse sócia, né!?






Espreitando a morte
Essa é uma das fotos mais famosas quando o assunto são aqueles emails sentimentais sobre a fome no mundo. Ela foi tirada em 1994 pelo fotógrafo sudanês Kevin Carter. Com essa fotografia 
tirada na região de Ayod (uma pequena aldeia em Suam), ele ganhou o prêmio Pulitzer de fotojornalismo.

A figura esquelética de uma pequena menina, totalmente desnutrida, recostando-se sobre a terra, esgotada pela fome, e a ponto de morrer, enquanto num segundo plano, um abutre se encontra espreitando e esperando o momento preciso da morte da garota.
Quatro meses depois, abrumado pela culpa e conduzido por uma forte dependência às drogas, Kevin Carter suicidou-se.




Até mais!


sexta-feira, agosto 19, 2011

Arte Moderna

O que é arte moderna?
Para muitos teóricos, o início da Arte Moderna se dá em 1860 com o Impressionismo e vai até a Segunda Guerra Mundial. Argan, em seu importante livro "A Arte Moderna" já chama de modernos os movimentos a partir do romantismo, que para ele é o início do pensamento modernista.
A arte moderna é uma atitude do artista que já não se preocupa com regras e encomendas. Faz sua arte por que quer e não porque alguém (ou alguma instituição lhe encomendou).

e outro Link, outro post.

Na Europa, chamamos de Arte Moderna os movimentos da primeira metade do século XX que ficaram conhecidos como VANGUARDAS ARTÍSTICAS. Apesar de termos vários movimentos, sete deles tem destaque:

nAbstracionismo
nDadá

O que há de novo nessa arte?
A ruptura com a tradição, desmistifica a própria arte e nega a ilusão da arte tradicional, assumindo os materiais (ou seja, as pinceladas não são escondidas... a tela, em alguns casos, perde a moldura e é assumida... etc)

Mas não se esqueça que, apesar das mudanças, a arte moderna mantém os mesmos suportes da arte tradicional (óleo sobre tela, por exemplo!) e também as mesmas linguagens continuam sendo desenvolvidas (pintura, escultura, gravura, etc).

O primeiro museu voltado exclusivamente para a arte moderna no mundo foi o MOMA de Nova York.
MOMA OFICIAL

Aqui no Brasil, a primeira exposição modernista aconteceu em 1913 com o artista lituano Lasar Segall (que era expressionista na ocasião).

Algumas obras de Segall:

Asilo de velhos, 1909


Vilna e eu, 1910


Aldeia Russa, 1912

Em 1917, a artista Anita Malfatti realiza a primeira exposição modernista brasileira. Tal exposição foi um escândalo, sobretudo, graças à crítica de Monteiro Lobato, "Paranoia ou mistificação", publicada no jornal O Estado de São Paulo.

A crítica, muito pesada (não só à exposição, mas à arte moderna de modo geral) fez com que os modernistas se juntassem forças para tentar mostrar / explicar à sociedade o que é arte moderna. Uma das consequências disso foi, anos mais tarde, a Semana de Arte Moderna.

Outra coisa é importante é conseguir comparar obras tradicionais e modernas. No caso, trago uma análise comparativa entre arte acadêmica e impressionista. CLIQUE AQUI!!!!

Prestem atenção nos links! Eles levam para vários outros posts que podem ser bem úteis, com imagens e mais explicações.

terça-feira, agosto 09, 2011

Paranoia ou mistificação (mais uma vez)

PARANOIA OU MISTIFICAÇÃO
Monteiro Lobato
Estado de São Paulo, 20/12/1917

Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que vêm as coisas e em consequência fazem arte pura, guardados os eternos ritmos da vida, e adotados, para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres.
Quem trilha esta senda, se tem gênio é Praxiteles na Grécia, é Rafael na Itália, é Reynolds na Inglaterra, é Dürer na Alemanha, é Zorn na Suécia, é Rodin na França, é Zuloaga na Espanha. Se tem apenas talento, vai engrossar a plêiade de satélites que gravitam em torno desses sóis imorredouros.
A outra espécie é formada dos que vêm anormalmente a natureza e a interpretam à luz das teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. São produtos do cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência; são frutos de fim de estação, bichados ao nascedouro. Estrelas cadentes, brilham um instante, as mais das vezes com a luz do escândalo, e somem-se logo nas trevas do esquecimento.
Embora se dêem como novos, como precursores de uma arte a vir, nada é mais velho do que a arte anormal ou teratológica: nasceu como a paranóia e a mistificação.
De há muito que a estudam os psiquiatras em seus tratados, documentando-se nos inúmeros desenhos que ornam as paredes internas dos manicômios.
A única diferença reside em que nos manicômios essa arte é sincera, produto lógico dos cérebros transtornados pelas mais estranhas psicoses; e fora deles, nas exposições públicas zabumbadas pela imprensa partidária mas não absorvidas pelo público que compra, não há sinceridade nenhuma, nem nenhuma lógica, sendo tudo mistificação pura.
Todas as artes são regidas por princípios imutáveis, leis fundamentais que não dependem da latitude nem do clima.
As medidas da proporção e do equilíbrio na forma ou na cor decorrem do que chamamos sentir. Quando as coisas do mundo externo se transformam em impressões cerebrais, “sentimos”. Para que sintamos de maneira diversa, cúbica ou futurista, é forçoso ou que a harmonia do universo sofra completa alteração, ou que o nosso cérebro esteja em desarranjo por virtude de algum grave destempero.
Enquanto a percepção sensorial se fizer no homem normalmente, através da porta comum dos cinco sentidos, um artista diante de um gato não poderá “sentir” senão um gato; e é falsa a “interpretação” que o bichano fizer do totó, um escaravelho ou um amontoado de cubos transparentes.
Estas considerações são provocadas pela exposição da sra. Malfatti, onde se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso & Cia.
Essa artista possui um talento vigoroso, fora do comum. Poucas vezes, através de uma obra torcida em má direção, se notam tantas e tão preciosas qualidades latentes. Percebe-se, de qualquer daqueles quadrinhos, como a sua autora é independente, como é original, como é inventiva, em que alto grau possui umas tantas qualidades inatas, das mais fecundas na construção duma sólida individualidade artística.
Entretanto, seduzida pelas teorias do que ela chama arte moderna, penetrou nos domínios de um impressionismo discutibilíssimo, e pôs todo o seu talento a serviço duma nova espécie de caricatura.
Sejamos sinceros: futurismo, cubismo, impressionismo e tutti quanti não passam de outros ramos da arte caricatural. É a extensão da caricatura a regiões onde não havia até agora penetrado. Caricatura da cor, caricatura da forma – mas caricatura que não visa, como a verdadeira, ressaltar uma idéia, mas sim desnortear, aparvalhar, atordoar a ingenuidade do espectador.
A fisionomia de quem sai de uma de tais exposições é das mais sugestivas.
Nenhuma impressão de prazer ou de beleza denunciam as caras; em todas se lê o desapontamento de quem está incerto, duvidoso de si próprio e dos outros, incapaz de raciocinar e muito desconfiado de que o mistificaram grosseiramente.
Outros, certos críticos, sobretudo, aproveitam a vasa para “épater le bourgeois” (chocar o burguês). Teorizam aquilo com grande dispêndio de palavreado técnico, descobrem na tela intenções inacessíveis ao vulgo, justificam-nas com a independência de interpretação do artista; a conclusão é que o público é uma besta e eles, os entendidos, um grupo genial de iniciados nas transcedências sublimes duma Estética Superior.
No fundo, riem-se uns dos outros – o artista do crítico, o crítico do pintor. É mister que o público se ria de ambos.
“Arte moderna”: eis o escudo, a suprema justificação de qualquer borracheira.
Como se não fossem moderníssimos esse Rodin que acaba de falecer, deixando após si uma esteira luminosa de mármores divinos; esse André Zorn, maravilhoso virtuose do desenho e da pintura; esse Brangwyn, gênio rembrandtesco da babilônia industrial que é Londres; esse Paul Chabas, mimoso poeta das manhãs, das águas mansas e dos corpos femininos em botão.
Como se não fosse moderna, moderníssima, toda a legião atual de incomparáveis artistas do pincel, da pena, da água-forte, da “ponta-seca”, que fazem da nossa época uma das mais fecundas em obras primas de quantas deixaram marcos de luz na história da humanidade.
Na exposição Malfatti figura, ainda, como justificativa da sua escola, o trabalho de um “mestre” americano, o cubista Bolynson. É um carvão representando (sabe-se disso porque o diz a nota explicativa) uma figura em movimento. Ali está entre os trabalhos da sra. Malfatti em atitude de quem prega: eu sou o ideal, sou a obra prima; julgue o público do resto, tomando-me a mim como ponto de referência.
Tenhamos a coragem de não ser pedantes; aqueles gatafunhos não são uma figura em movimento; foram isto sim, um pedaço de carvão em movimento. O sr. Bolynson tomou-o entre os dedos das mãos, ou dos pés, fechou os olhos e fê-lo passear pela tela às tontas, da direita para a esquerda, de alto a baixo. E se não fez assim, se perdeu uma hora da sua vida puxando riscos de um lado para outro, revelou-se tolo e perdeu o tempo, visto como o resultado seria absolutamente igual.
Já em Paris se fez uma curiosa experiência: ataram uma brocha à cauda de um burro e puseram-no de traseiro voltado para uma tela. Com os movimentos da cauda do animal a brocha ia borrando um quadro...
A coisa fantasmagórica disso resultante foi exposta como um supremo arrojo da escola futurista, e proclamada pelos mistificadores como verdadeira obra prima que só um ou outro raríssimo espírito de eleição poderia compreender.
Resultado: o público afluiu, embasbacou, os iniciados rejubilaram – e já havia pretendentes à compra da maravilha quando o truque foi desmascarado.
A pintura da sra. Malfatti não é futurista, de modo que estas palavras não se lhe endereçam em linha reta; mas como agregou à sua exposição uma cubice, queremos crer que tende para isso como para um ideal supremo.
Que nos perdoe a talentosa artista, mas deixamos cá um dilema: ou é um gênio o sr. Bolynson e ficam riscadas desta classificação, como insignes cavalgaduras cortes inteiras de mestres imortais, de Leonardo a Rodin, de Velazquez a Sorolla, de Rembrandt a Whistler, ou... vice versa. Porque é de todo impossível dar o nome de obra d’arte a duas coisas diametralmente opostas como, por exemplo, a “Manhã de Setembro” de Chabas e o carvão cubista do sr. Bolynson.
Não fosse profunda a simpatia que nos inspira o belo talento da sra. Malfatti, e não viríamos aqui com esta série de considerações desagradáveis. Como já deve ter ouvido numerosos elogios à sua nova atitude estética, há de irritá-la como descortês impertinência a voz sincera que vem quebrar a harmonia do coro de lisonjas.
Entretanto, se refletir um bocado verá que a lisonja mata e a sinceridade salva.
O verdadeiro amigo de um pintor não é aquele que o entontece de louvores; sim, o que lhe dá uma opinião sincera, embora dura, e lhe traduz chãmente, sem reservas, o que todos pensam dele por detrás.
Os homens têm o vezo de não tomar a sério as mulheres artistas. Essa é a razão de as cumularem de amabilidades sempre que elas pedem opinião.
Tal cavalheirismo é falso; e sobre falso nocivo. Quantos talentos de primeira água não transviou, não arrastou por maus caminhos, o elogio incondicional e mentiroso? Se víssemos na Sra. Malfatti apenas a “moça prendada que pinta”, como as há por aí às centenas, calar-nos-íamos, ou talvez lhe déssemos meia-dúzia desses adjetivos bombons que a crítica açucarada tem sempre à mão em se tratando de moças.
Julgamo-la, porém, merecedora da alta homenagem que é ser tomada a sério e receber a respeito de sua arte uma opinião sinceríssima – e valiosa pelo fato de ser o reflexo da opinião geral do público não idiota, dos críticos não cretinos, dos amadores normais, dos seus colegas de cabeça não virada – e até dos seus apologistas.
Dos seus apologistas, sim, dona Malfatti, porque eles pensam deste modo... por trás.