terça-feira, outubro 16, 2007

Música Brasileira

Um "breve" histórico da música brasileira


Antes da chegada dos portugueses, os índios já faziam música.
Suas músicas eram executadas em solos e coros, acompanhados pela dança, bater das palmas, dos pés, flautas, apitos, cornetas, chocalhos, varetas e tambores.
Quando as primeiras missões de jesuítas portugueses chegam ao Brasil, além do catolicismo e dos princípios básicos de uma nova forma de civilização, os padres passam a introduzir as noções elementares da música européia aos índios e a apresentar seus instrumentos musicais, num primeiro contato importante de fusão e influência na nascente história da música brasileira.
A partir do primeiro século da colonização, chegam os primeiros grupos de escravos trazidos da África para trabalhar nas lavouras brasileiras, trazendo suas músicas, danças, idiomas, macumba e candomblé – criando a base primordial de uma nova etapa fundamental na história inicial da música brasileira.
A cultura musical africana dos escravos negros é preservada e desenvolvida através dos Quilombos. Surgem, então, as primeiras formas de uma música afro-brasileira, que desenvolveria o afoxé, jongo, lundu, maracatu, maxixe, samba e outros gêneros futuros.
1650 – 1700
A colonização portuguesa introduz largamente instrumentos europeus sofisticados como a flauta, violão, cavaquinho, clarinete, violino, violoncelo, harpa, acordeon, piano, bateria, triângulo e pandeiro.
A partir dos rituais religiosos das missões jesuítas nascem os primeiros cultos folclóricos populares dos habitantes locais como o 'reisado' e o 'bumba-meu-boi'.
A música sacra, as baladas melancólicas e as modas portuguesas contribuem para a formação da música brasileira.
Século XVIII
Surge o mais importante gênero musical – a modinha. Criada em Portugal, e responsável pelos aspectos melódicos e românticos na música brasileira, a modinha exerce grande influência até a Nova República, no início do século XIX.
Século XIX
Em 19 de março de 1870, na Itália, estréia no lendário Teatro Scala de Milão, a obra máxima do maestro-compositor brasileiro Carlos Gomes (1836-1896) – a ópera O Guarani –, baseada no romance de José de Alencar.
Com ela, o Brasil nascia para o mundo musical.
Carlos Gomes foi, sem dúvida, o maior compositor das Américas no século XIX.
Em 1875, diretamente dos lendários cabarés da Lapa, no Rio de Janeiro, nasce o maxixe – a primeira dança de par e gênero musical modernos genuinamente brasileiros. Ele surge da mistura do lundu com o tango argentino, a habanera cubana e a polca.
Em 1880 surge o choro (chorinho), no Rio de Janeiro, através de pequenos grupos instrumentais, formados por pessoas modestas, que se reúnem nos subúrbios cariocas com suas flautas, cavaquinhos e violões. A mágoa e a nostalgia deram o nome ao gênero.
Esta é também a época das serenatas de fins de noite.
Em 1890 surge o frevo em Recife, Pernambuco. Um dos mais importantes gêneros musicais e danças do país.
Em 1899, no Rio de Janeiro, a compositora Chiquinha Gonzaga (1847-1935) compõe a primeira marcha carnavalesca da história da música brasileira chamada "Ô Abre Alas", um enorme sucesso e de grande influência na consolidação das bases iniciais da música popular brasileira.
1920 – 1950
Antecedendo a bossa nova, surge o samba-canção, um tipo mais lento, melancólico e romântico, orquestral e instrospectivo do gênero, também conhecido como samba de meio do ano, ou seja, aquele lançado depois dos sambas de carnaval. Sob forte influência do bolero, o samba-canção se consolidaria a partir de 1930.
Heitor Villa-Lobos (1887-1959)
O compositor brasileiro que participou da Semana de Arte Moderna, é até hoje o mais conhecido no exterior. Aproveitou os elementos folclóricos para criar suas músicas.
Aclamado por suas Bachianas, pela série dos Choros e Cirandas.
Villa-Lobos
1930 – 1946
Época áurea do rádio, com seus programas populares ao vivo de música de auditório, no Rio de Janeiro, com Ary Barroso.
Os 'cantores do rádio' (Francisco Alves, Orlando Silva, Silvio Caldas)
As 'rainhas do rádio', (Emilinha Borba e Marlene).
1939
É composta "Aquarela do Brasil", de Ary Barroso (1903-1964), que inaugura o gênero samba-exaltação. Foi a primeira e mais importante música exportada aos Estados Unidos e Europa até então.
1943
Em Hollywood, o cineasta e desenhista norte-americano Walt Disney inclui em seu desenho"Alô Amigos" (Saludo Amigos) uma versão em iglês da música "Aquarela do Brasil" , de Ary Barroso, alterando o título para "Brazil”, com grande sucesso. Esse samba torna-se praticamente um segundo hino brasileiro e abre definitivamente as fronteiras do mundo para a música brasileira.
Em maio de 1955, com a gravação de "Saudosa Maloca", pelo grupo Demônios da Garoa, Adoniran Barbosa (1910-1982) firma o seu estilo peculiar que o tornaria célebre como o mais fiel cronista das camadas populares paulistanas, inspirando-se no linguajar dos diferentes grupos de imigrantes, predominantemente o italiano. Outros grandes sucessos de Adoniran Barbosa foram: "O Samba do Arnesto", "Tiro Ao Álvaro", e o enorme sucesso de "Trem das Onze“.
Adoniran Barbosa é tido como o maior compositor popular da capital de São Paulo.
Ainda em 1955, com fortes ecos dos Estados Unidos e Inglaterra, o rock'n'roll chega ao Brasil.
A primeira grande estrela do gênero é Celly Campelo (1942-) com os hits "Estúpido Cupido" e "Banho de Lua", já no início dos anos 60.
Logo depois, seria totalmente absorvido e adaptado pelo movimento da jovem guarda.
Em 1958, o disco da cantora Elizeth Cardoso, 'Canção do Amor Demais', com a primeira gravação do futuro clássico "Chega de Saudade" (Antonio Carlos Jobim e Vinícius de Moraes), e participação especial do baiano João Gilberto no violão, inaugura oficialmente a bossa nova.
O termo MPB – Música Popular Brasileira – é empregado pela primeira vez em 1960, por Ary Barroso, na contra-capa do disco 'Bossa Nova', de Carlos Lyra.
Com estréia no mês de setembro de 1965, o cantor e compositor pop Roberto Carlos torna-se o Rei da Juventude nacional. Na liderança do movimento Jovem Guarda, apresenta um programa semanal homônimo de televisão, na TV Record de São Paulo, ao lado de Erasmo Carlos, Wanderléa e convidados como Eduardo Araujo, Martinha, Rosemary, Ronnie Von, Antonio Marcos, Deny e Dino, Leno e Lilian, The Jordans, The Jet Blacks, Renato e Seus Blue Caps, Golden Boys, Os Incríveis e outros. O programa de TV terminaria em 1969.
O movimento foi responsável pela introdução da guitarra elétrica e instrumentos eletrônicos na nascente Tropicália – de Caetano Veloso e Gilberto Gil – que seria uma das causas do fim da Jovem Guarda, suplantando-a em popularidade.
Em 1965 acontecem os grandes festivais. A extinta TV Excelsior produz o primeiro Festival de Música Popular Brasileira. Nos dois anos seguintes, a TV Record realiza outros dois. Também os Festivais Universitários de Música Popular Brasileira, da TV Tupi, do Rio de Janeiro.
Da soma deles, surgem nomes como Elis Regina (com "Arrastão", de Edu Lobo e Vinícius de Moares), Caetano Veloso (com "Alegria, Alegria", dele mesmo), Gilberto Gil (com "Domingo no Parque", dele mesmo), Gal Costa (com "Divino Maravilhoso", de Caetano), Os Mutantes (com "Dois Mil e Um", de Rita Lee e Tom Zé), Chico Buarque de Hollanda (com "A Banda" e "Roda Viva", dele mesmo), Milton Nascimento (com "Cidade Vazia", de Baden Powell e Lula Freire), Tom Zé (com "São Paulo, Meu Amor", dele mesmo), Paulinho da Viola (com "Sinal Fechado", dele mesmo), MPB-4 e outros.
Com a repressão e censura instauradas pelo regime militar, configura-se o espírito para o surgimento das músicas de protesto, sendo Chico Buarque de Hollanda o compositor mais importante e representativo desse tipo particular de expressão musical, com "Apesar de Você" (1970), "Construção" (1971), "Deus Lhe Pague" (1971).
Outro a ser ressaltado é o compositor e cantor Sérgio Ricardo, que em 1967, tomou parte no Festival da Canção de Protesto, realizado na Bulgária, onde suas músicas foram interpretadas por Geraldo Vandré. Por sua vez, Vandré atingiu o ponto máximo de sua carreira de cantor e compositor com a então clássica e polêmica canção "Pra Não Dizer Que Não Falei das Flores", ou "Caminhando" (1968), defendida no III Festival Internacional da Canção, e que se tornou uma espécie de hino estudantil na época.
Com o lançamento do disco 'Tropicália – Panis Et Circenses', de 1968, com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Nara Leão, Os Mutantes e o maestro Rogério Duprat, o tropicalismo é oficialmente reconhecido como manifesto e nova proposta musical, inspirado na tese antropofágica da Semana de Arte Moderna de 22, possibilitando o desdobramento do movimento em trabalhos individuais de seus principais protagonistas em releituras e novas perspectivas para a música brasileira.
Participaram do movimento, Tom Zé, os letristas Torquato Neto e Capinam, os maestros arranjadores Júlio Medaglia e Damiano Cozzela. Pela defesa da música brasileira, o tropicalismo incorporou, com muita polêmica, o uso da guitarra elétrica, de gêneros como o bolero, o carnaval, as músicas de raiz e elementos do rock. O nome Tropicália foi extraído por Caetano de uma instalação do artista plástico Hélio Oiticica.
1973 é o apogeu da carreira de Raul Seixas (1945-1989) – um dos maiores roqueiros da história da música pop brasileira. Tendo começado profissionalmente dois anos antes, foi somente em 1973 que ele consegue o seu primeiro grande sucesso com "Ouro de Tolo”. No mesmo ano, viriam outros hits como "Metamorfose Ambulante", "Mosca na Sopa", e "Al Capone" (com Paulo Coelho).
Anos 80 - 90
Em busca de novas alternativas musicais como resposta à já institucionalizada MPB, parte da elite da juventude brasileira de classe média provoca uma nova onda de rock e pop, apoiada no movimento pós-punk new wave, que domina totalmente o cenário musical nacional com um forte movimento underground.
Surgem Titãs, Paralamas do Sucesso, Legião Urbana (Renato Russo), Barão Vermelho (Cazuza e Frejat), RPM (Paulo Ricardo), Ultraje a Rigor, Kid Abelha, Engenheiros do Hawaii, Lobão, Biquini Cavadão, Ratos de Porão (João Gordo) e outros.
Em 20 de outubro de 1990, começam oficialmente as transmissões da MTV Brasil, importante emissora pop de marca internacional que passa a representar o segmento jovem da música mundial e da música brasileira, através de seus consagrados formatos videoclipes.
Em 1992, com o enfraquecimento e desarticulação do movimento pop-rock brasileiro e internacional do fim dos anos 80, surgem renovadas categorias musicais de forte apelo popular que predominam por toda a década no Brasil – como o dolente samba-pagode, a carnavalesca axé music e a nova música sertaneja de sotaque country.
Um ano depois o formato CD começa a suplantar o vinil em vendas. O ainda grande mercado de fitas cassetes existente no país é praticamente de controle total da pirataria. A partir de 1997, a produção de vinil é extinta.
Em 1994 surge o movimento mangue beat. É lançado o primeiro disco de Chico Science & Nação Zumbi, 'Da Lama Ao Caos', da banda mais inovadora e uma das mais representativas – e a mais popular – do movimento de Recife (Pernambuco).
Depois de mais de 10 anos de um movimento praticamente marginalizado pela mídia, o rap atinge firmemente setores da classe média a partir de 1997. Nesse movimento hip-hop (com o grafite e a breakdance), destacam-se tanto artistas de classe média alta como Gabriel, O Pensador, quanto grupos vindos das violentas periferias das grandes cidades. Entre eles: Racionais MCs (SP) – o maior fenômeno do mercado independente com mais de 1 milhão de CDs vendidos –, Pavilhão 9 (SP), Faces do Subúrbio (PE), Planet Hemp (RJ), Nocaute (RJ), Detentos do Rap (da penitenciária do Carandiru, em São Paulo), Câmbio Negro (DF), Da Guedes (RS), Xis & Dentinho (SP), Marcelo D2 (Planet Hemp) – com contundentes críticas sociais.