quinta-feira, junho 26, 2008

DIVULGANDO ARTISTAS

Gostaria de mostrar pra vocês três artistas... três colegas de vocês (isso mesmo, estudantes do segundo ano).
Fiquei espantada com a qualidade das fotos! Parabéns pessoal!!

Bruno Salveti
http://www.flickr.com/photos/salveti

Algumas fotos do Bruno:




André Lane
Algumas fotos do Adré:




Algumas fotos da Alinne:








terça-feira, junho 24, 2008

BOAS FÉRIAS!

Mais uma vez fim de junho... Mais uma vez FÉRIAS!!!

Quero aprovitarpara fazer um breve comentário sobre a prova do segundo ano. Não coloquei pérolas porque não encontrei nenhuma digna de risos (isso pode ser bom), mas fiquei meio triste porque uma galera ficou de rec. Paciência!

Espero, de coração, que vocês aproveitem as férias.

PROPOSTA DE ATIVIDADE PARA AS FÉRIAS:

Vimos em sala de aula uns trechos do filme "Across the Universe".
Quem tiver como (e quiser, claro!), poderia vê-lo inteiro e fazer um trabalho sobre ele: vale poesia, texto dissertativo, desenho, fotografia, colagem... Botem a criatividade pra trabalhar!!! Inspirem-se nesse filme.

Como demora muito colocar vídeos aqui, vou indicar os links do youtube.

TRAILER 1
http://www.youtube.com/watch?v=43aLbo-Y_W0


TRAILER 2
http://www.youtube.com/watch?v=7u07ENmusaE&feature=related


LET IT BE
http://www.youtube.com/watch?v=GQNpEET9WqQ


I WANT YOU
http://www.youtube.com/watch?v=NwB8QiKWodk


STRAWBERRY FIELDS FOREVER
http://www.youtube.com/watch?v=98ZoPtIdR2I


REVOLUTION
http://www.youtube.com/watch?v=1XWM2LhVOKc



Bom, pra quem tiver paciência de procurar no you tube, dá pra ver o filme todo (parte por parte).

Também indiquei pras férias o filme "O PAGADOR DE PROMESSAS", de Anselmo Duarte.

TRAILER
http://www.youtube.com/watch?v=CgVKYRyAnIU&feature=related/


"Zé do Burro e sua mulher Rosa vivem em uma pequena propriedade a 42 quilômetros de Salvador. Um dia, o burro de estimação de Zé é atingido por um raio e ele acaba indo a um terreiro de candomblé, onde faz uma promessa a Santa Bárbara para salvar o animal. Com o restabelecimento do bicho, Zé põe-se a cumprir a promessa e doa metade de seu sítio, para depois começar uma caminhada rumo a Salvador, carregando nas costas uma imensa cruz de madeira."

Só pra vocês terem uma idéia da importâcia desse filme:

- Recebeu uma indicação ao Oscar, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro, 1963.

- Palma de Ouro no Festival de Cannes, França (Melhor longa-metragem), 1962;

- Festival Internacional de São Francisco, Estados Unidos (Melhor filme) prêmio Darius Milhaud e melhor música (Golden Gate),1962;

- Prêmio Sapatos Viejos, Festival de Cartagena, Colômbia, 1962;

- Prêmio Cabeza de Palanque, Festival de Acapulco, México, 1962;

- Prêmio Especial de Bucareste, Romênia, 1962;

- Prêmio Crític's Award, Festival Internacional de Edimburgo, Escócia (Diploma de mérito), 1962;

- Menção Honrosa, Festival de Sestri-Levante, Itália, 1962; Menção Especial, Festival de Locarno, Suiça, 1962;

- Menção Honrosa, Festival de Toronto, Canadá, 1962;

- Menção Honrosa, Festival de Karlovy-Vary, Tchecoslováquia, 1962;

- Menção Especial, Festival de Moscou, Russia, 1962;

- Melhor filme, produtor (Oswaldo Massaini), ator (Leonardo Villar) e prêmio especial (Anselmo Duarte e Dias Gomes), prêmio Saci, São Paulo, 1962;

- Melhor filme, produtor (Oswaldo Massaini), diretor, ator (Leonardo Villar) e argumento (Dias Gomes), prêmio Governador do Estado de São Paulo, São Paulo, 1962;

- Melhor filme, diretor, ator (Leonardo Villar), atriz (Norma Bengell), ator secundário (Geraldo del Rey) e revelação (Glória Menezes), V Festival de Cinema de Curitiba, Paraná, 1962;

- Melhor diretor, ator (Leonardo Villar), atriz (Glória Menezes), ator secundário (Roberto Ferreira), menção honrosa (Norma Bengell), argumento (Dias Gomes), fotografia (H.C.Fowle), composição (Gabriel Migliori) e edição (Carlos Coimbra), prêmio Cidade de São Paulo, Júri Municipal de Cinema, São Paulo, 1962;

- Melhor filme, diretor, ator (Leonardo Villar) e atriz (Glória Menezes), troféu Cinelândia, Rio de Janeiro, 1962.

Queria aproveitar o post pra desejar BOA SORTE pro pessoal que vai pra Espanha na Olimpíada Internacional de Matemática!!!

BOAS FÉRIAS PRA VOCÊS!!! E PRA MIM TAMBÉM!!

domingo, junho 08, 2008

Prova segundo ano - EA212


Como eu sou uma professora muito legal (apesar de alguns de vocês não merecerem! - olha a manha! hehehehehehe) vou colocar aqui a matéria para a prova de vocês (com links pros assuntos)


Missão Artística Francesa:


A Academia Imperial de Belas Artes:


Transição entre o acadêmico e o moderno:



Início do Modernismo Brasileiro:


Anita Malfatti (nossa primeira grande artista moderna) - Segall era Lituano, lembram??:



Semana de Arte Moderna:


Modernismo:




Gostaria de lembrá-los que poderei tirar dúvidas na segunda-feira antes da prova (dia 09/06). Para não ficar uma "zona" e também pra facilitar pra mim e pra vocês, por favor usem este post para fazerem perguntas, ok??!!

Bjão a todos! Bons estudos! Boa prova!

Viva! Viva! (que é o mais importante!)

INDICAÇÕES

Olá pessoal

Gostaria de indicar a todos o site do MAC USP sobre o Modernismo brasileiro.

http://www.mac.usp.br/projetos/seculoxx/modulo2/modernismo/index.html

Vale muito a pena conhecer. Lá tem informações gerais sobre o modernismo, a semana de 22 e os principais artistas.

Além disso, aqui está uma lista de sites dos nossos principais artistas modernos:

VICTOR BRECHERET:
http://www.victor.brecheret.nom.br/
(gente... é "ponto NON" mesmo, viu!!!!)


PORTINARI:
http://www.portinari.org.br/


TARSILA DO AMARAL:
http://www.tarsiladoamaral.com.br/


CÍCERO DIAS:
http://www.cicerodias.com.br/


OSWALDO GOELDI:
http://www.centrovirtualgoeldi.com/

DI CAVALCANTI

Expoente das artes plásticas brasileira, idealizador e um dos organizadores da Semana de Arte Moderna de 1922.
Depois de 22, até o final da década de 20 e, entre 1935 e 1940, viveu na Europa e conheceu os artistas mais notáveis da época.

A grande marca das suas obras é a presença das mulheres mulatas e negras.
Roda de Samba
Colonos

Festa Popular

ANITA MALFATTI


Anita Malfatti nasceu em 1889, em São Paulo. Seu pai era um italiano católico e mãe americana, de ascendência alemã protestante. Logo pequena teve contato com a arte, pois sua mãe, que era uma pessoa muito culta, sempre fez questão disso. Ela mesma introduziu a filha no universo da pintura.

Um defeito congênito a tornou uma falsa canhota; trazia sempre um lenço colorido cobrindo a mão direita deformada. Essa limitação foi marcante para sua personalidade e características emocionais. 

Quando ainda era criança, deitou numa vala por onde passou um trem só para perder o medo; de olhos fechados, tudo o que viu foram cores. Acontece, então, a revelação de seu destino: quer ser pintora.
Mais tarde (quando começa suas experiências na arte moderna) vai experimentar voluntariamente a fome, a cegueira e a sede, buscando na sensação física a "superação do eu". Era expressionista antes de saber o que significava o termo.

Depois de ter estudado no Colégio Mackensie e ter se formado no magistério, uma tragédia assola sua vida: a morte do pai.
A moça precisava arrumar um rumo para sua vida. Por confiar no seu talento como artista, um tio patrocina seus estudos.

Anita foi para a Europa, passando por Paris, onde teve contato com os artistas fauvistas, para a Alemanha, onde frequentou, por três anos, a Academia Real de Berlim. Estudou gravura, desenho e pintura, além de conhecer os principais mestres do expressionismo alemão.

Foi a seguir para Nova York estudar na Independent School of Art, experiência marcante em sua obra. Teve contato com artistas e intelectuais. Anita iniciou uma obra de tendência claramente expressionista/fauvista, longe dos padrões acadêmicos vigentes até então no Brasil.
Sua exposição em 1917, em São Paulo, recebeu crítica ferrenha de Monteiro Lobato. (o artigo também foi postado aqui no prosalunos)

Anita é considerada precursora do modernismo nas artes plásticas brasileiras. As obras A Boba, O Homem Amarelo, Estudante Russa e Torso fazem parte dos trabalhos expostos em 1917, considerados o climax de sua produção.

Morreu em 1964, em São Paulo.



A boba
Torso

O homem amarelo
A estudante russa

ANÁLISE COMPARATIVA: Acadêmico x Impressionista



ELISEU VISCONTI, Jardim de Luxemburgo,1915
Óléo sobre tela 25 X 35 cm
Rio de Janeiro, Museu Castro Maia.

Observe com atenção as duas imagens:

A primeira é do artista acadêmico Vítor Meirelles e a segunda do artista impressionista Eliseu Visconti.
Enquanto a primeira imagem apresenta tema histórico, narrando um momento importante e solene (de maneira romantizada... diga-se de passagem!), mostrando um estudo rigoroso das formas (vestimentas, objetos, tipos físicos, atitudes...), a segunda imagem apresenta um tema cotidiano, um momento efêmero, ocasional. Não há preocupação com os detalhes e o foco está na impressão do momento.
Meirelles apresenta em sua Primeira Missa planos distintos e Visconti, em seu Jardim, planos mais difusos.
Na pintura acadêmica as massas de claro e escuro estão em oposição e o foco de luz fica sobre a figura principal - como se fosse uma luz cênica (lembrando que a arte acadêmica segue o princípio da mímesis, ou seja, não se trata de imitar a natureza tal qual ela é, mas melhorá-la, deixá-la mais bela.); já na pintura impressionista mas massas são menos definidas e a luminosidade é distribuída de maneira mais naturaz - um dos principais focos da pesquisa impressionista é exatamente os efeitos da luz natural sobre os objetos, a paisagem e pessoas (é só a gente lembrar dos estudos e das pinturas de Monet).
A pincelada também é bastante diferente, enquanto na primeira pintura ela "desaparece" em função da forma, as pinceladas da segunda pintura aparecem muito claramente. Uma das características marcantes da pintura impressionista é exatamente esta: pinceladas rápidas! Não há a necessidade de escondê-las.
É interessante lembrarmos que Eliseu Visconti também foi aluno da AIBA, assim como Meirelles - mas um aluno que se rebelou! hehehehe Na verdade ele fez parte de uma das últimas turmas da Academia (em 1889 ela fecha, lembram??)
Mais informações sobre a obra e a vida de Eliseu Visconti:

SEMANA DE ARTE MODERNA


(imagens feitas por Di Cavalcanti para a Semana de 22)

A Semana de Arte Moderna aconteceu na cidade de São Paulo entre os dias 13 e 17 de fevereiro de 1922.

• Escritores, artistas plásticos, arquitetos e músicos
• Principal objetivo: renovar o ambiente artístico
• Tendências vanguardistas da Europa (com caráter nacionalista)
• Centenário da Independência
• Negação do academicismo


Os jovens modernistas da Semana negavam, antes de mais nada, o academicismo nas artes. A essa altura, estavam já influenciados esteticamente por tendências e movimentos como o Cubismo, o Expressionismo, o Futurismo e diversas ramificações pós-impressionistas.

Principais participantes da Semana

Literatura: Mário de Andrade - Oswald de Andrade - Graça Aranha - Ronald de Carvalho - Menotti del Picchia - Guilherme de Almeida - Sérgio Milliett
Artes Plásticas: Anita Malfatti - Di Cavalcanti - Vicente do Rego Monteiro
Música: Villa-Lobos - Guiomar Novaes


"Não sabemos o que queremos.
Mas sabemos o que não queremos."

OSWALD DE ANDRADE


"Queremos luz, ar, ventiladores, aeroplanos,
reivindicações obreiras, idealismos, motores,
chaminés de fábricas, sangue, velocidade,
sonho em nossa arte.
Que o rufo de um automóvel, nos trilhos de dois versos,
espante da poesia o último deus homérico,
que ficou anacronicamente a dormir e a sonhar,
na era do jazz band e do cinema,
com a flauta dos pastores da Arcádia e
os seios divinos de Helena".


MENOTI DEL PICCHIA


OS SAPOS

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!"

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - “Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte ! E nunca rimo
Os termos cognatos.(...)"

Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei" - "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
(...)

Manuel Bandeira
(declamado porRonald de Carvalho)


ERRO DE PORTUGUÊS

“Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português”

OSWALD DE ANDRADE

sábado, junho 07, 2008

LASAR SEGALL

Sobre o início do modernismo brasileiro e LASAR SEGALL:

http://prosalunos.blogspot.com/2007/05/modernismo-brasileiro.html

(post aqui do blog mesmo... só pra ajudar na busca de vocês!)

ELISEU VISCONTI

Com a proclamação da República a Academia Imperial de Belas Artes chega ao fim. Em seu lugar é criada a Escola Nacional de Belas Artes, que obedecia praticamente aos mesmos moldes da AIBA, apenas com algumas diferenças burocráticas - mas permitia certos "avanços" da modernidade... Claro que com moderação!
Na virada do século acontece aqui no Brasil um período de transição entre o clássico e o moderno. Assim como na Europa, é pelo IMPRESSIONISMO que tal mudança acontece.
Nosso principal representante desse estilo é ELISEU VISCONTI.
MATERNIDADE-OST-200x166-1906-PINACOTECA DO ESTADO DE SÃO PAULO


MOÇA NO TRIGAL-OST-65x80-1913-16-COLEÇÃO PARTICULAR

NINANDO NO JARDIM-OST-65x81-1916-MUSEU CASTRO MAIA


"Sou presentista. A arte não pode parar.
Modifica-se permanentemente.
Agrada agora o que antes era detestado.
Isto é evolução e não é possível fugir aos
seus efeitos. O homem não pára.
Vai sempre adiante.
Os futuristas, os cubistas são todos expressões
respeitáveis, artistas que tateiam, procurando
alguma coisa que ainda não alcançaram.
Eles agitam, sacodem, renovam.
São dignos, por conseguinte, de toda admiração".
Eliseu Visconti

sexta-feira, junho 06, 2008

ACADEMIA IMPERIAL DE BELAS ARTES

O imperador Dom Pedro II, quando assumiu o governo, procurou dar ao país um desenvolvimento cultural mais sólido, incentivando as letras, as ciências e as artes. Estas ganharam um impulso de tendência nitidamente conservadora, que refletiam modelos clássicos europeus.

O imperador foi um grande mecenas e, para incentivar os alunos-artistas, oferecia bolsas de estudos na Europa para aqueles que mais se destacassem.

ALGUNS DE SEUS ILUSTRES ALUNOS:

Vítor Meirelles

Foi um dos mais virtuosos alunos da AIBA e, mais tarde, se tornou um de seus mais ilustres professores.

Entre suas obras mais conhecidas estão: "A primeira missa no Brasil", de 1860 e "A batalha de Guararapes".




Pedro Américo

Um dos nossos mais conhecidos pintores acadêmicos, autor de obras importantíssimas como "O grito do Ipiranga" e "Tiradentes escartejado".
Pedro Américo também foi professor da AIBA mas, diferente de Meirelles, que se dedicava à aulas práricas, se dedicou ao ensino da História da Arte.


Almeida Junior

Uma das características mais marcantes de sua obra é o alto nível de realismo técnico - além do realismo temático em algumas obras.

São dele as famosas telas "Leitura", "Caipira picando fumo" e "saudade".







Apesar de serem acadêmicos, esses artistas foram influenciados pela literatura da época, principalmente pelo romantismo. Além da visão romantizada de cenas históricas, também percebemos a presença de temas nacionalistas e indianistas (que estavam muito presentes no romantismo brasileiro).
Este é o site do Museu Nacional de Belas Artes (que funciona na sede da antiga AIBA).
O prédio foi projetado pelo arquiteto Grandjeam de Montigny, da Missão Artística Francesa.

Missão Artística Francesa

Em 1808 afamília real chega ao Brasil fugida dos exércitos de Napoleão. Com isso, o Brasil passa a receber forte influência européia principalmente nas artes.
A Missão Artística Francesa chegou ao Brasil em 1816, chefiada por Joachin Lebreton. Dela faziam parte, entre outros artistas, Nicholas-Antoine Taunay, Jean-Baptiste Debret (pintores) e Grandjean de Montigny (arquiteto).

A principal tarefa dessa missão artística era organizar uma escola de arte acadêmica aqui no Brasil, além de trazer a arte clássica para cá, e produzir imagens do Brasil para o velho mundo ver.
Taunay (1755-1830)
•É considerado uma das figuras mais importantes da Missão Francesa.
•Pintou muitas paisagens brasileiras, principalmente do Rio de Janeiro.

(Morro de Santo Antonio, 1816)


Debret (1768-1848)

•É o artista da Missão Francesa mais conhecido pelos brasileiros. Seus trabalhos, que documentam a vida no Brasil durante o século XIX, são muito usados em livros escolares.




segunda-feira, junho 02, 2008

Texto de Apoio II - Oswald de Andrade

Olá pessoal!
Este é o texto do Manifesto Antropofágico que comentei com vocês. Também vale muito a pena conhecê-lo! O texto pode parecer um pouco estranho - não se esqueçam que se trata de um manifesto moderno escrito de maneira moderna.

Manifesto Antropofágico

Só a Antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.
Única lei do mundo. Expressão mascarada de todos os individualismos, de todos os coletivismos. De todas as religiões. De todos os tratados de paz.
Tupi, or not tupi that is the question.
Contra todas as catequeses. E contra a mãe dos Gracos.
Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.
Estamos fatigados de todos os maridos católicos suspeitosos postos em drama. Freud acabou com o enigma mulher e com outros sustos da psicologia impressa.
O que atropelava a verdade era a roupa, o impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior. A reação contra o homem vestido. O cinema americano informará.
Filhos do sol, mãe dos viventes. Encontrados e amados ferozmente, com toda a hipocrisia da saudade, pelos imigrados, pelos traficados e pelos touristes. No país da cobra grande.
Foi porque nunca tivemos gramáticas, nem coleções de velhos vegetais. E nunca soubemos o que era urbano, suburbano, fronteiriço e continental. Preguiçosos no mapa-mundi do Brasil.
Uma consciência participante, uma rítmica religiosa.
Contra todos os importadores de consciência enlatada. A existência palpável da vida. E a mentalidade pré-lógica para o Sr. Lévy-Bruhl estudar.
Queremos a Revolução Caraiba. Maior que a Revolução Francesa. A unificação de todas as revoltas eficazes na direção do homem. Sem nós a Europa não teria sequer a sua pobre declaração dos direitos do homem.
A idade de ouro anunciada pela América. A idade de ouro. E todas as girls.
Filiação. O contato com o Brasil Caraíba. Ori Villegaignon print terre. Montaig-ne. O homem natural. Rousseau. Da Revolução Francesa ao Romantismo, à Revolução Bolchevista, à Revolução Surrealista e ao bárbaro tecnizado de Keyserling. Caminhamos...
Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará.
Mas nunca admitimos o nascimento da lógica entre nós.
Contra o Padre Vieira. Autor do nosso primeiro empréstimo, para ganhar comissão. O rei-analfabeto dissera-lhe : ponha isso no papel mas sem muita lábia. Fez-se o empréstimo. Gravou-se o açúcar brasileiro. Vieira deixou o dinheiro em Portugal e nos trouxe a lábia.
O espírito recusa-se a conceber o espírito sem o corpo. O antropomorfismo. Necessidade da vacina antropofágica. Para o equilíbrio contra as religiões de meridiano. E as inquisições exteriores.
Só podemos atender ao mundo orecular.
Tínhamos a justiça codificação da vingança. A ciência codificação da Magia. Antropofagia. A transformação permanente do Tabu em totem.
Contra o mundo reversível e as idéias objetivadas. Cadaverizadas. O stop do pensamento que é dinâmico. O indivíduo vitima do sistema. Fonte das injustiças clássicas. Das injustiças românticas. E o esquecimento das conquistas interiores.
Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros.
O instinto Caraíba.
Morte e vida das hipóteses. Da equação eu parte do Cosmos ao axioma Cosmos parte do eu. Subsistência. Conhecimento. Antropofagia.
Contra as elites vegetais. Em comunicação com o solo.
Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval. O índio vestido de senador do Império. Fingindo de Pitt. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons sentimentos portugueses.
Já tínhamos o comunismo. Já tínhamos a língua surrealista. A idade de ouro.
Catiti Catiti
Imara Notiá
Notiá Imara
Ipeju
A magia e a vida. Tínhamos a relação e a distribuição dos bens físicos, dos bens morais, dos bens dignários. E sabíamos transpor o mistério e a morte com o auxílio de algumas formas gramaticais.
Perguntei a um homem o que era o Direito. Ele me respondeu que era a garantia do exercício da possibilidade. Esse homem chamava-se Galli Mathias. Comia.
Só não há determinismo onde há mistério. Mas que temos nós com isso?
Contra as histórias do homem que começam no Cabo Finisterra. O mundo não datado. Não rubricado. Sem Napoleão. Sem César.
A fixação do progresso por meio de catálogos e aparelhos de televisão. Só a maquinaria. E os transfusores de sangue.
Contra as sublimações antagônicas. Trazidas nas caravelas.
Contra a verdade dos povos missionários, definida pela sagacidade de um antropófago, o Visconde de Cairu: – É mentira muitas vezes repetida.
Mas não foram cruzados que vieram. Foram fugitivos de uma civilização que estamos comendo, porque somos fortes e vingativos como o Jabuti.
Se Deus é a consciênda do Universo Incriado, Guaraci é a mãe dos viventes. Jaci é a mãe dos vegetais.
Não tivemos especulação. Mas tínhamos adivinhação. Tínhamos Política que é a ciência da distribuição. E um sistema social-planetário.
As migrações. A fuga dos estados tediosos. Contra as escleroses urbanas. Contra os Conservatórios e o tédio especulativo.
De William James e Voronoff. A transfiguração do Tabu em totem. Antropofagia.
O pater famílias e a criação da Moral da Cegonha: Ignorância real das coisas,fala de imaginação, entimento de autoridade ante a prole curiosa.
É preciso partir de um profundo ateísmo para se chegar à idéia de Deus. Mas a caraíba não precisava. Porque tinha Guaraci.
O objetivo criado reage com os Anjos da Queda. Depois Moisés divaga. Que temos nós com isso?
Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade.
Contra o índio de tocheiro. O índio filho de Maria, afilhado de Catarina de Médicis e genro de D. Antônio de Mariz.
A alegria é a prova dos nove.
No matriarcado de Pindorama.
Contra a Memória fonte do costume. A experiência pessoal renovada.
Somos concretistas. As idéias tomam conta, reagem, queimam gente nas praças públicas. Suprimarnos as idéias e as outras paralisias. Pelos roteiros. Acreditar nos sinais, acreditar nos instrumentos e nas estrelas.
Contra Goethe, a mãe dos Gracos, e a Corte de D. João VI.
A alegria é a prova dos nove.
A luta entre o que se chamaria Incriado e a Criatura – ilustrada pela contradição permanente do homem e o seu Tabu. O amor cotidiano e o modusvivendi capitalista. Antropofagia. Absorção do inimigo sacro. Para transformá-lo em totem. A humana aventura. A terrena finalidade. Porém, só as puras elites conseguiram realizar a antropofagia carnal, que traz em si o mais alto sentido da vida e evita todos os males identificados por Freud, males catequistas. O que se dá não é uma sublimação do instinto sexual. É a escala termométrica do instinto antropofágico. De carnal, ele se torna eletivo e cria a amizade. Afetivo, o amor. Especulativo, a ciência. Desvia-se e transfere-se. Chegamos ao aviltamento. A baixa antropofagia aglomerada nos pecados de catecismo – a inveja, a usura, a calúnia, o assassinato. Peste dos chamados povos cultos e cristianizados, é contra ela que estamos agindo. Antropófagos.
Contra Anchieta cantando as onze mil virgens do céu, na terra de Iracema, – o patriarca João Ramalho fundador de São Paulo.
A nossa independência ainda não foi proclamada. Frape típica de D. João VI: – Meu filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça! Expulsamos a dinastia. É preciso expulsar o espírito bragantino, as ordenações e o rapé de Maria da Fonte.
Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud – a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de Pindorama.
OSWALD DE ANDRADE
Em Piratininga
Ano 374 da Deglutição do Bispo Sardinha.
(Revista de Antropofagia, Ano 1, No. 1, maio de 1928.)

Texto de apoio - Monteiro Lobato

Olá pessoal!
Aqui está o artigo do Monteiro Lobato sobre a exposição da Anita Malfatti que eu falei. Vale a pena ler!

PARANÓIA OU MISTIFICAÇÃO

Monteiro Lobato
Estado de São Paulo, 20/12/1917

Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que vêm as coisas e em conseqüência fazem arte pura, guardados os eternos ritmos da vida, e adotados, para a concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestre.
Quem trilha esta senda, se tem gênio é Praxiteles na Grecia, é Rafael na Itália, é Reynolds na Inglaterra, é Dürer na Alemanha, é Zorn na Suécia, é Rodin na França, é Zuloaga na Espanha. Se tem apenas talento, vai engrossar a plêiade de satélites que gravitam em torno desses sóis imorredouros.
A outra espécie é formada dos que vêm anormalmente a natureza e a interpretam à luz das teorias efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da cultura excessiva. São produtos do cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência; são frutos de fim de estação, bichados ao nascedouro. Estrelas cadentes, brilham um instante, as mais das vezes com a luz do escândalo, e somem-se logo nas trevas do esquecimento.
Embora se dêem como novos, como precursores de uma arte a vir, nada é mais velho do que a arte anormal ou teratológica: nasceu como a paranóia e a mistificação.
De há muito que a estudam os psiquiatras em seus tratados, documentando-se nos inúmeros desenhos que ornam as paredes internas dos manicômios.
A única diferença reside em que nos manicômios essa arte é sincera, produto lógico dos cérebros transtornados pelas mais estranhas psicoses; e fora deles, nas exposições públicas zabumbadas pela imprensa partidária mas não absorvidas pelo público que compra, não há sinceridade nenhuma, nem nenhuma lógica, sendo tudo mistificação pura.
Todas as artes são regidas por princípios imutáveis, leis fundamentais que não dependem da latitude nem do clima.
As medidas da proporção e do equilíbrio na forma ou na cor decorrem do que chamamos sentir. Quando as coisas do mundo externo se transformam em impressões cerebrais, «sentimos». Para que sintamos de maneira diversa, cúbica ou futurista, é forçoso ou que a harmonia do universo sofra completa alteração, ou que o nosso cérebro esteja em desarranjo por virtude de algum grave destempero.
Enquanto a percepção sensorial se fizer no homem normalmente, através da porta comum dos cinco sentidos, um artista diante de um gato não poderá "sentir" senão um gato; e é falsa a "interpretação" que do bichano fizer um totó, um escaravelho ou um amontoado de cubos transparentes.
Estas considerações são provocadas pela exposição da sra. Malfatti, onde se notam acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso & Cia.
Essa artista possui um talento vigoroso, fora do comum. Poucas vezes, através de uma obra torcida em má direção, se notam tantas e tão preciosas qualidades latentes. Percebe-se, de qualquer daqueles quadrinhos, como a sua autora é independente, como é original, como é inventiva, em que alto grau possui umas tantas qualidades inatas, das mais fecundas na construção duma sólida individualidade artística.
Entretanto, seduzida pelas teorias do que ela chama arte moderna, penetrou nos domínios de um impressionismo discutibilíssimo, e pôs todo o seu talento a serviço duma nova espécie de caricatura.
Sejamos sinceros: futurismo, cubismo, impressionismo e tutti quanti não passam de outros ramos da arte caricatural. É a extensão da caricatura a regiões onde não havia até agora penetrado. Caricatura da cor, caricatura da forma – mas caricatura que não visa, como a verdadeira, ressaltar uma idéia, mas sim desnortear, aparvalhar, atordoar a ingenuidade do espectador.
A fisionomia de quem sai de uma de tais exposições é das mais sugestivas.
Nenhuma impressão de prazer ou de beleza denunciam as caras; em todas se lê o desapontamento de quem está incerto, duvidoso de si próprio e dos outros, incapaz de raciocinar e muito desconfiado de que o mistificaram grosseiramente.
Outros, certos críticos sobretudo, aproveitam a vasa para "épater le bourgeois" (chocar o burguês). Teorizam aquilo com grande dispêndio de palavreado técnico, descobrem na tela intenções inacessíveis ao vulgo, justificam-nas com a independência de interpretação do artista; a conclusão é que o público é uma besta e eles, os entendidos, um grupo genial de iniciados nas transcedências sublimes duma Estética Superior.
No fundo, riem-se uns dos outros – o artista do crítico, o crítico do pintor. É mister que o público se ria de ambos.
"Arte Moderna": eis o escudo, a suprema justificação de qualquer borracheira.
Como se não fossem moderníssimos esse Rodin que acaba de falecer, deixando após si uma esteira luminosa de mármores divinos; esse André Zorn, maravilhoso virtuose do desenho e da pintura; esse Brangwyn, gênio rembrandtesco da babilônia industrial que é Londres; esse Paul Chabas, mimoso poeta das manhãs, das águas mansas e dos corpos femininos em botão.
Como se não fosse moderna, moderníssima, toda a legião atual de incomparáveis artistas do pincel, da pena, da água-forte, da ponta-seca, que fazem da nossa época uma das mais fecundas em obras primas de quantas deixaram marcos de luz na história da humanidade.
Na exposição Malfatti figura, ainda, como justificativa da sua escola, o trabalho de um "mestre" americano, o cubista Bolynson. É um carvão representando (sabe-se disso porque o diz a nota explicativa) uma figura em movimento. Ali está entre os trabalhos da sra. Malfatti em atitude de quem prega: eu sou o ideal, sou a obra prima; julgue o público do resto, tomando-me a mim como ponto de referência.
Tenhamos a coragem de não ser pedantes; aqueles gatafunhos não são uma figura em movimento; foram isto sim, um pedaço de carvão em movimento. O sr. Bolynson tomou-o entre os dedos das mãos, ou dos pés, fechou os olhos e fê-lo passear pela tela às tontas, da direita para a esquerda, de alto a baixo. E se não fez assim, se perdeu uma hora da sua vida puxando riscos de um lado para outro, revelou-se tolo e perdeu o tempo, visto como o resultado seria absolutamente igual.
Já em Paris se fez uma curiosa experiência: ataram uma brocha à cauda de um burro e puseram-no de traseiro voltado para uma tela. Com os movimentos da cauda do animal a brocha ia borrando um quadro...
A coisa fantasmagórica disso resultante foi exposta como um supremo arrojo da escola futurista, e proclamada pelos mistificadores como verdadeira obra prima que só um ou outro raríssimo espírito de eleição poderia compreender.
Resultado: o público afluiu, embasbacou, os iniciados rejubilaram – e já havia pretendentes à compra da maravilha quando o truque foi desmascarado.
A pintura da sra. Malfatti não é futurista, de modo que estas palavras não se lhe endereçam em linha reta; mas como agregou à sua exposição uma cubice, queremos crer que tende para isso como para um ideal supremo.
Que nos perdoe a talentosa artista, mas deixamos cá um dilema: ou é um gênio o sr. Bolynson e ficam riscadas desta classificação, como insignes cavalgaduras cortes inteiras de mestres imortais, de Leonardo a Rodin, de Velazquez a Sorolla, de Rembrandt a Whistler, ou... vice versa. Porque é de todo impossível dar o nome de obra d’arte a duas coisas diametralmente opostas como, por exemplo, a "Manhã de Setembro" de Chabas e o carvão cubista do sr. Bolynson.
Não fosse profunda a simpatia que nos inspira o belo talento da sra. Malfatti, e não viríamos aqui com esta série de considerações desagradáveis. Como já deve ter ouvido numerosos elogios à sua nova atitude estética, há de irritá-la como descortês impertinência a voz sincera que vem quebrar a harmonia do coro de lisonjas.
Entretanto, se refletir um bocado verá que a lisonja mata e a sinceridade salva.
O verdadeiro amigo de um pintor não é aquele que o entontece de louvores; sim, o que lhe dá uma opinião sincera, embora dura, e lhe traduz chãmente, sem reservas, o que todos pensam dele por detrás.
Os homens têm o vezo de não tomar a sério as mulheres artistas. Essa é a razão de as cumularem de amabilidades sempre que elas pedem opinião.
Tal cavalheirismo é falso; e sobre falso nocivo. Quantos talentos de primeira água não transviou, não arrastou por maus caminhos, o elogio incondicional e mentiroso? Se víssemos na sra.Malfatti apenas a "moça prendada que pinta", como as há por aí às centenas, calar-nos-íamos, ou talvez lhe déssemos meia-dúzia desses adjetivos bombons que a crítica açucarada tem sempre à mão em se tratando de moças.
Julgamo-la, porém, merecedora da alta homenagem que é ser tomada a sério e receber a respeito de sua arte uma opinião sinceríssima – e valiosa pelo fato de ser o reflexo da opinião geral do público não idiota, dos críticos não cretinos, dos amadores normais, dos seus colegas de cabeça não virada – e até dos seus apologistas.
Dos seus apologistas, sim, dona Malfatti, porque eles pensam deste modo... por trás.