segunda-feira, maio 15, 2006

A Violência na Cidade

O final de semana foi "quente" em São Paulo. A violência prevaleceu. O dia das mães não foi um domingo de alegria para todos.
Segunda-feira: pânico na cidade. O motivo: sim, a violência... mas também muitos boatos. Mentiras e mais mentiras que assombraram o dia dos paulistanos. Gente chorando, pais desesperados na porta da escola pra buscar seus filhos... trânsito infernal. O caos.

A arte já foi muito usada para demonstrar o repúdio à violência. Alguns exemplos são conhecidíssimos: GUERNICA de Picasso, por exemplo.

Hoje o dia foi tenso, muito tenso. Resolvi escutar Beethoven - a "nona" (versão da OSESP - Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, uma das melhores orquestras do mundo e nossa. Dai eu penso... ah se a segurança do Estado de São Paulo fosse tão boa quanto sua orquestra!!!).

Os alunos mal apareceram na aula hoje. Os que foram saíram mais cedo ou não estavam "presentes" 100%. Me deu vontade de fazer todo mundo ouvir Beethoven.

Nas épocas da faculdade eu sempre ouvia dizer que a ARTE pode ser uma arma. Que bom seria se essas pessoas nos atingissem com ela. Já imaginou que mágico seria se ouvíssimos nos telejornais que os presidiários fizeram um ato artístico para protestar por melhores condições... que ao invés de fogo, ateassem "música" nos ônibus ou que pintassem imagens coloridas nos bancos... Mas não, usam armas arcaicas. Matam.

E nós, o que podemos fazer? Não gosto da idéia de ficar de braços cruzados. Não gosto de pensar que a responsabilidade é só da polícia. Toda a sociedade deve fazer sua parte - seja mostrando a cara, sem pânico... seja protestando pacificamente (com arte), seja usando a cabeça no dia das eleições.

Bom, espero que vocês reflitam sobre os acontecimentos desse final de semana, de hoje e (tomara que não) de amanhã. Espero que vocês possam tirar grandes lições disso tudo. Não que aprendam a ter ainda mais medo da violência, mas que tentem entender qual é a causa disso tudo, qual é a base do problema.

Vou colocar aqui pra vocês um poema do alemão Bertolt Brecht (um grande artista, revolucionário na sua arte) - hei, leiam que é bacana :P

AOS QUE VÃO NASCER

É verdade, eu vivo em tempos negros.
Palavra inocente é tolice. Uma testa sem rugas
Indica insensibilidade. Aquele que ri
Apenas não recebeu ainda
A terrível notícia.

Que tempos são esses, em que
Falar em árvores é quase um crime
Pois implica silenciar sobre tantas?
Aquele que atravessa a rua tranqüilo
Não está mais ao alcance de seus amigos
Necessitados?

Sim, ainda ganho o meu sustento
Mas acreditem: é puro acaso. Nada do que faço
Me dá direito a comer, a fartar.
Por acaso fui poupado. (Se minha sorte acaba, estou perdido.)

As pessoas me dizem: Coma e beba! Alegre-se porque tem!
Mas como posso comer e beber, se
Tiro o que como ao que tem fome
E meu copo d'água falta ao que tem sede?
E no entando eu como e bebo.

Eu bem gostaria de ser sábio.
Nos velhos livros se encontra o que é sabedoria:
Manter-se afastado da luta do mundo e a vida breve
Levar sem medo
E passar sem violência
Pagar o mal com o bem
Não satisfazer os desejos, mas esquecê-los
Isto é sábio.
Nada disso sei fazer:
É verdade, eu vivo em tempos negros.

(...)

Entretanto sabemos: Também o ódio à baixeza
Deforma as feições.
Também a ira pela injustiça
Torna a voz rouca. Ah, e nós
Que queríamos preparar o chão para o amor
Não pudemos nós mesmos ser amigos.

Mas vocês, quando chegar o momento
Do homem ser parceiro do homem
Pensem em nós
Com simpatia.

(Espero que tenham lido... e gostado)

Até mais e VIVA! VIVA!